quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Reflexão

   Um ano passado!
   Uma época desportiva para trás, 29 provas e 1100 km percorridos.
   Este é um momento de reflexão, olhar para as fotos e resultados e reviver as emoções, as sensações, os pensamentos.
   Altura idêntica só talvez numa prova única, em ambiente novo, distancia nova, dificuldade nova, clima agreste, sim em momentos destas revive-se memórias, tentamos ir ao fundo do baú toda a experiência adquirida. Agora recordo-me de um momento desses, sim foi na Madeira.
   A espera, o dia custou tanto a passar, a contar os minutos e as horas até que partíssemos.
   Pequenos cruzamentos de olhares com outros atletas, mas um ambiente desconcertante pela concentração e ansiedade. A entrada no autocarro aumentou a adrenalina, a ideia de dormir uma horita tinha ido por água abaixo, gargalhadas e piadas disfarçavam os nervos, eu sentia as pulsações cardíacas fortes!
   Quando se entra para o curral da partida, começamos a pensar em tudo e mais alguma coisa, pois a prova tinha sido muito preparada e havia noção total do que nos esperava, e para cada dificuldade lembrava-me de uma prova, pela técnica lembrava-me da Freita e acalmava, pelo intempérie lembrava-me do UTAX, e pela distancia, e pelo desnivel andar dos 0mts aos 1900mts, e com km's verticais,  idealizava uma espécie de D'Arga e Freita seguidas, algo monumental-mente dificil mas exequível. As conversas, os avisos, os abre olhos aqui neste curral fizeram sentido e vieram ao de cima.
Apesar de sorrisos a realidade está nesta foto.


As subidas intermináveis, a escuridão, o nevoeiro, as constantes alterações climatéricas e a distancia, motivaram dezenas de estados de espírito e pensamentos, a outra verdade iria ser descoberta, podemos ter pernas, ter conhecimentos técnicos, mas controlar o corpo e a alma no meio de intempéries, fintar o corpo do sono e cansaço, ter começado à meia noite depois de um dia enorme cheio de emoções só a adrenalina deu para passar a noite, a nossa força, a nossa força mental.
Momentos de agora, são momentos de calmia onde o tecto da nossa casa, a comida em cima da mesa escondem os cheiros da floresta, os ventos das montanhas.
O pequeno trail, o trail, o trail long, o ultra trail, e por ai fora...uma história que agora parece interminável, mas que culmina numa barreira, uma barreira que uma organização, a que organiza o evento por muitos dita a 'meca do trail', que avalia os eventos numa fórmula matemática entre a distancia e os desníveis, 4 pontos UTMB um selo que muito poucas provas conseguem exibir, um selo que mete respeito. Desde os primeiros km's que já se via desistências e de atletas bons e experientes, o que me deixava mais preocupado.
A companhia fora uma arma poderosa, que dava para tapar altos e baixos. As tontices de acelarações, ir atrás de tempos, de não querer ficar atrás de alguém aqui ou se acabam ou pagas a factura. a experiência da Mestre tornou-se evidentemente fundamental, e tudo fazia sentido.


   
   Agora mais repousado digo, somos homens e cada um de nós tem um organismo diferente, ver, ouvir e ler é bom, mas pode ser mau. Os ténis bons de uns podem ser maus para mim, a hidratação boa de uns pode ser má para mim, os treinos bons de uns podem ser maus para mim, enfim acaba por ser uma pescadinha de rabo na boca.
   O plano de provas feito, planeado de uma forma sustentada a culminar no MIUT foi a melhor preparação possível, deu-me conhecimentos reais e práticos do meu organismo, e do meu equipamento, deu-me preparação psicológica. Lembro-me que aprendi a reconhecer grandes diferenças em provas 'idênticas' fazer 42 km Sicó não é 42 km Abutres. Ter a ideia que o UTAX poderá ser igual ou parecida à Freita é outro erro. Aliás a Freita 2013 foi  bem mais acessível e menos perigosa que 2012, o clima estava bem mais quente, o rio estava baixinho e com as margens secas. A morfologia das provas é algo muito variável.
   Desfrutar de um trail em determinados locais, e ou com determinadas distancias acarreta uma consciencialização de realidades.


   Produzir e partilhar uma foto montagem destas, só pode representar orgulho, pois foi um caminho, um caminho planeado, um caminho duro cheio de coisas boas e de muitas 'dores' lol
   Conquistar algo, e guardá-lo no armário no mínimo seria desmotivador, lol
   Não tenho objectivo de ir ao UTMB. Mas tenho 7 pontos em 2 provas. não foi pelos pontos, foi pelo UTAX e MIUT! :-)

 
   Sei que a maioria do pessoal é muito experiente.
   Mas também já aprendi que a melhor lição é viver as coisas.
   Espero para este ano concluir o caminho traçado.
   Espero que todos vós planeiem um bom caminho, pois o destino é possivel a todos, mas o caminho que fazemos é que o torna possível.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Querer é poder, nunca é como se começa, mas sim sempre como se acaba!



Ultra Maratona Atlantica 2012
e
a Ana e o Hélder
5h19
cheias de brincadeira e banhitos
Há melhores momentos do que estes?


uma partida ao desconhecido
a Ana veio porque eu estava inscrito e ela quis-me proteger
a minha Treinadora :-)
ainda hoje ela diz se quiseres vai ;-) vou por os phones


o nosso safari :-)
e a meio a correr pela água que delicia
tudo a olhar e a correr no seco...


após tanta pedra, tanta subida nada como uma praia 
esta prova funciona um pouco como uma maratona de estrada 
aos 30 lá vem ele, 
no começo ninguém quer ficar para trás
e depois a factura paga-se
a humildade e bom senso são compensatórios
a boa companhia então nem se fala


com areia a escaldar
os tornozelos todos maçados
e nós todos assados
a meta!

venha UMA 2013
com a treinadora :-) a lado
vamos ver se a consigo acompanhar

UTLO a 6 dias
nas ultimas semanas as provas têm sido marcantes

MIUT


um desgaste monumental
a prova do ano
a seguir a repetição da prova do ano de 2012
a
UTSF


com mazelas do MIUT
a descontração e brincadeira era ordem da treinadora

e mais uns trocos pelo meio
o endurance continua...

I have a dream
i still have a dream

voltar à Madeira e acabar o MIUT com a Ana
naquele local fantástico

e


há quem sonhe com o Mont Blanc
 em 2 provas fiz pontos para lá ir
mas o meu sonho é mais perto
mais barato
apesar de mais dificil
apesar de ter pouco mediatismo, e ainda bem
é o meu sonho


boas provas a todos
bons treinos a todos

Querer é poder,
nunca é como se começa, mas sim sempre como se acaba!

assim está a chegar ao fim esta época épica
e maravilhosa
:-)

pelo meio ficaram muitos momentos
muitas amizades travadas

obrigado Mundo da Corrida

obrigado Ana Santos

obrigado Amigos






quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sabor amargo da conquista



Meses a namora-lo
Fotos lindas
O desafio era atentador
Inicialmente a ideia foi atravessar a ilha a pé e íamos aos 85k
A Ana picou-me o juízo, vamos lá e não fazemos a grande?
O meu coração saltou, e depressa essa ideia cresceu dentro de mim ao lado dela
Foram meses de preparação
Ultras atrás de ultras sempre em ritmos de endurance
Em algumas situações podia-se ter andado mais rápido
Em outras em maiores distancias
mas o nosso objectivo era o MIUT 116k




e assim foi 


Da esquerda para a direita, eu, a minha Ana Santos o João Lamas e o João Queiróz
Claro tivemos o espectacular Rodolfo Rapaz, e o Otavio Melo que não aparecem nesta foto
mas acabaram por fazer parte desta aventura


Ia preparado até aos dentes
a Ana foi mais minimalista, mas ia com um grandioso sorriso
o Rodolfo mais relaxado, mas mais apreensivo pois já sabia ao que vinha...
a decisão foi partir sem impermeável, foi no bolso, o João igual e a Ana depressa quando começou a subir se juntou a nós ehehehheheheehehehe


este cimento tinha mais de 25 % de inclinação e levou 45 minutos a ultrapassá-lo, o aquecimento estava feito
tinha os tempos todos estudados, quer para fazer bom tempo quer para não ser barrado
estava-mos 5 minutos atrasados, nada mal, nada de especial :-)
na descida começa o nosso calvário, mais 20 minutos ao ar, era muito técnica e havia fila
quando entrámos na seguinte subida foi de uma violência incrível, nunca mais acabava e de uma inclinação ofegante, quando chegámos ao 1º cp já levava 1 hora de atraso à melhor estimativa, e estávamos perto de sermos barrados, a Ana muito triste pois ela gosta de andar descontraída, tinha que levar com pressão e dar corda aos sapatos, e aconteceu o pior cai nevoeiro serrado, os óculos da Ana andavam sempre embaciados, ela não podia usar as lentes de contacto, por motivos médicos.
Se a subida demorou muito tempo e foi desgastante, a descida enorme e técnica com o nevoeiro não correu melhor, e a Ana desesperada por querer correr, e não ver o caminho, dissemos ao João para seguir, pois não sabíamos se íamos chagar atrasados, foi quando o dia começou a vir, metemos o nosso passinho
disse-lhe que ainda dava, ela já estava a animar, e conseguimos :-)
O João estava triste no abastecimento, ficou contente por nos ver, o abastecimento estava cheio de malta
que ia desistir, depois aparece o Rodolfo, tranquilo mesmo em cima do tempo.
Os Estanquinhos ficarão guardados cá dentro, de mim e da Ana, era o primeiro local que víamos desde a partida, em 32 km e 3000 d+, 7h30 incrível
olha-mos uns para os outros e acordámos pelo menos tentar o próximo controle de tempo o curral das freiras, tínhamos até às 14h
e com um caldinho de galinha, uma sandes de banana e queijo, bolo da madeira e um café nos posemos ao caminho :-)  eu a Ana e o João
a seguir o percurso correu na normalidade, descontraídos e felizes e ainda deu para umas fotos


o cp das 7h30


o Rodolfo...cheguei a perguntar porquê não andar connosco, mas .... ele gostava de subir mais calmo
ainda não sei o que se passou, mas deverá ter chegado ao poiso muito fora do tempo, foi uma pena
agora tem que se juntar a nós e voltar lá :-)


sitios lindos, escadas e mais escadas,
andámos sempre em trilhos ou caminhos, escadas e escadinhas
um infinito de escadas lol
quer para cima quer para baixo
quer de pedra, quer de cimento, quer de troncos e quer escavados
brutal


as levadas,eram levadas e mais levadas, cada uma maior que a outra, uma de noite outras de dia, com e sem nevoeiro, simplesmente deslumbrante





este foi o abastecimento mais calminho, sempre muito bem tratados :-)
o próximo troço para o curral era como verão a seguir







este percurso pedestre, foi loooooooooooongo, a subir e o calor apertava, seguido da descida do curral, muito desnivelada, pedra solta e areias, muito escorregadia, daqui para a frente iria perder a minha disponibilidade física e amimica para as fotos
estávamos animados, tínhamos chegado 20 minutos antes do limite do tempo
trocar de ténis, abastecer os sacos, e caldinho de galinha, sandes de banana e queijo, bolo da madeira e cafézinho ;-) lol
ia começar o assalto ao pico ruivo 8.9km a subir
esta subida tem duas histórias, a primeira parte, debaixo de um intenso calor foi fustigadora e duradoira
com degraus, sem degraus, no meio de eucaliptos, lá íamos...tinha enchido o saco de água, foi toda.
Finalmente tinha ficado mais suave e começávamos a entrar pelas nuvens a dentro, e as rajadas de vento gelado começavam a atacar, brbrbrbbrbrrbrbbrb
havia uma tenda de socorro da organização e estavam lá desistentes, nem sabíamos , o que nos esperava a restante subida no perfil era mais suave, mas tornou-se quase algo tirado de um filme de terror
vento, nevoeiro grandes degraus molhados, escarpas um sobe e desce constante, os quadrix aqui começaram a queimar a sério, o desgaste fisico e mental começava-se a sentir a olhos vistos, cada curva cada clima, ora sol, ora nevoeiro, ora calor, ora rajadas de frio foi algo que não esquecerei
só a por e a tirar impermeável foi de loucos
irei por algumas fotos tiradas por um outro aventureiro
que tendo sido mais rápido até tirou fotos dos nossos percursos finais nocturnos





aqui foi o último descanso mais um posto surpresa com líquidos, e ia começar o troço que deu cabo de toda a gente, o carrossel para o pico areeiro
simplesmente deslumbrante e duríssimo
onde a Ana sempre andou à frente a puxar pelos pastelões eheheheeheeehh
até me troça o coração, de nós os 3 ela sempre esteve mais fresca, sempre mesmo no momento do abandono

















e com esta imagem nos despedimos do pico areeiro, desta maravilha da natureza
e entramos no cp do areeiro
eram 19h40, tínhamos 3 horas e 20 para chegar ao Poiso
e ainda precisávamos de descansar
o nevoeiro já nos tinha envolvido totalmente, bem como o vento e o frio
a noite estava a 1 hora
e ra quase impossível chegar ao outro cp
tínhamos de descer numa hora e subir em duas
a Ana sentiu-se mal, pois lembrou-se da 1ª noite e os óculos, e não conseguiria ir ao ritmo necessário
por não ver, e temia pela sua segurança, ela disse que não iria continuar para não nos empatar
quase que chorei, e disse-lhe que ficava com ela
ela olhou-me bem dentro, agarrou-me e disse-me, eu fico bem, tu estás bem vai acabar isto com o João
o João que tinha a sua lanterna do chinês estragada, lol ficou com a da Ana
prepará-mo-nos bem e com um grande aperto dentro de mim deixei o abastecimento e a Ana
Para o ano voltamos para acabares Ana ! :-)
Não sei do que foi, mas fomos por ali abaixo que nem uns doidos
nem parecia que tínhamos 78 km nas pernas daquela dureza
fizemos 8 km numa hora, e a noite caiu já estávamos a subir para o poiso
mas o que eu temia aconteceu
e o aperto não nos perdoou até ao final
foi de dores e sem forças
finalmente chegávamos ao Poiso e com alguma folga
foi o último abastecimento que consegui comer de jeito
o calvário afundava-se, mas 25 faltavam, e o próximo objectivo era o próximo cp e a descer
no meio do vento, por debaixo das árvores a deixarem cair água com o vento daquele nevoeiro macabro







o poiso

já comia uma bananinha da madeira ehehehheeh

de seguida foi aquilo ao que eu chamo de uma autentica caminhada e luta contra tudo, a distancia, o nosso corpo tudo...e a partir do percurso do maroços começou a tourada a sério
os olhos a fecharem, as tonturas, o sono a dominar o corpo
era o João faz um trote estou quase a dormir
e o meu trote mais valia estar quieto lol
e ele dizia eu a andar ando tão rápido que o teu trote, lol
não havia condições.....
foram horas muito violentas a todos os níveis




do abastecimento dos 20 km saímos a pensar nos dos 12km como meta
claro foram 3 longas horas, num sobe e desce, tudo parecia grande e enfadonhos muros
dos 12km ficámos a pensar no abastecimento dos 3 que afinal faltavam 4,5km :-(
uma longa e sacrificante descida para Manchico, as pedrinhas pareciam grandiosos degraus.
a levada final foi interminável.







e assim se chegou a Manchico



29h19 116k 7000d+ 


O João Lamas e eu tínhamos conseguido superar esta prova e nós próprios
a nossa união
o nosso controle
 a nossa força interior
e a Ana Santos 
deu-nos este prémio
com o sabor amargo de a Ana ter ficado nos 78 km
dedico esta conquista à Ana Santos

e como temos de pensar em algo, porque não....



vamos nesta :-)